
“Todas as equações racionais diziam para eu ir para Angola, mas algo estranho me fez contrariar isso e ir para o norte da África.”
A artista Castiel Vitorino Brasileiro vive e trabalha
no planeta Terra. Em conversa com Beatriz Lemos,
menciona travessias, fim de paisagens, esperas portuárias, a violência que coreógrafa a fé, construção
e destruição de laços, ser o próprio instituto,
Castiel participa da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível, e das exposições coletivas Linhas Torta, na Mendes Wood DM São Paulo, e Ensaios para o Museu das Origens, no Instituto Tomie Ohtake.
Entrevista por Beatriz Lemos

Você chega no Marrocos a partir de um sonho sobre o deserto. Um recado para que busque o imponderável da vida em um lugar que se transfigurou. Sentiu que precisava morar no deserto em contraponto à ilha, local onde nasceu. Se o deserto é vida em abundância, pois é um corpoambiente que um dia foi água, como conseguiu acessar a memória ecológica daquela terra e se reconectar com sua ancestralidade interespecífica durante a viagem?
Sua pergunta é linda. É lindo iniciarmos nossa conversa evocando sonhos, justamente essas imagens que nos pertencem mesmo quando não as conhecemos.
Eu nasci numa ilha no Espírito Santo, Vitória, e minha comunidade fica no centro dessa ilha, num dos seus pontos mais altos, o Morro da Fonte Grande. Olhar para o mar e esperar que alguém chegue ou vá embora de
nossas vidas é o que aprendemos a fazer desde sempre. E aos poucos, também estou aprendendo
a me despedir de medos, anseios, inseguranças
e a aguardar boas-novas. Em Vitória, convivemos
com alterações repentinas de temperatura. Ainda que o calor tropical da Mata Atlântica nos refresque, nos deixe úmidas, ainda assim é comum que o tempo mude de uma hora pra outra e comece a chover depois de um dia de sol. Então precisamos nos adaptar a essa inconstância que me machuca às vezes, me faz passar mal... mas acabamos nos apaixonando e nos tornamos pertencentes a esses ritmos das marés, às danças entre o sol e a chuva.
E daí um dia eu acordei e senti profundamente que eu deveria morar no deserto. Depois de alguns meses, entendi que seria Marrocos esse lugar. Mesmo tendo
um longo estudo e grande admiração pela região de Centro-África, especialmente Angola, eu senti verdadeiramente que precisava criar outro caminho, não o da similaridade cultural, mas trilhar um caminho que fosse diferente, novo, desafiador para o meu reportório. Todas as equações racionais diziam para eu ir para Angola, mas algo estranho me fez contrariar isso e ir para o norte do continente.
Sem dúvidas, o islamismo me ajudou na conexão com as terras marroquinas, através de sua prática cotidiana de oração comunitária. A Fonte Grande é um bairro que nasce dentro da Mata Atlântica, e até hoje nomeamos de Boca da Mata o início da região no alto do morro onde a mata te engole, onde não há
casas para os humanos. Em Marrocos, existem florestas, lagos, neve, mas não os encontramos, eu estava interessada nos mares de areia... me pareciam
ondas, me lembravam o mar, eu tinha medo de ser engolida e também tinha vontade de entrar por ali.
Os desertos não são lugares vazios, por isso, eu orava
todos os dias para encontrar a paz e lidar melhor com os conflitos de minha adaptação, que foi um conflito sobre origem.
Chegamos em Marrakesh durante o Ramadan, e fui aprendendo sobre a importância da tâmara, da água e do silêncio para aquelas pessoas. Fazer a minha própria comida, todos os dias, me fez assentar as coisas, fui aprendendo a criar um novo chão, e a escolher novas vidas para serem plantas ali. Acho que
a conexão foi se dando aí, em aprender novas formas de me alimentar, em todos os sentidos.

Kalunga, a origem das espécies é uma pesquisa de longa duração. Ou melhor dizendo, de infinda existência. Isso porque a abordagem que você
define para o projeto é justamente transpor à Kalunga a origem do universo – ao fim e ao começo em constante circularidade. Você a define como força de transmutação e princípio de metamorfose.
Você acha que Kalunga foi interpretada de forma equivocada e racista pelas definições teóricas de base branco-colonial? Os ideais raciais e primitivistas contribuíram para uma violência filosófica como conceito?
Sim, certamente há uma interferência colonial nas experiências kalungueiras, por assim dizer. Digo, a questão da palavra e sua tradução, de fato existe, e nos conduz a pensar Kalunga como sinônimo de morte enquanto fim, ou seja, uma tristeza. No Brasil, a palavra sobrevive em sua força de vida pós-morte. Aqui, nossas comunidades compreendem Kalunga como cemitério, lugar das almas descansarem e trabalharem. Eu também defendo Kalunga como um princípio de transfiguração. Kalunga é um momento de morte, decantação e gestação, tudo junto. Kalunga é uma oportunidade de mudança irrevogável, ainda que
criminalizada e demonizada. Kalunga é uma força de transformação. Kalunga é a vida em seu mistério indescritível. Kalunga é a vida além da palavra. Isso fere o pensamento colonial, fere nossa crença cultural colonial de que nascemos defeituosos. A experiência anunciada pela palavra Kalunga, a força anunciada
por essas letras, rasga a história de que somos incapazes de mudar nosso destino anunciado pela violência racial, ou seja, quebra a maldição do
esquecimento, rasga a história de que não temos passado, de que nascemos do pecado e somos deficientes de alma. Então tudo muda.
Kalunga é mudança.

Kalunga, a origem das espécies é uma pesquisa de longa duração. Ou melhor dizendo, de infinda existência. Isso porque a abordagem que você
define para o projeto é justamente transpor à Kalunga a origem do universo – ao fim e ao começo em constante circularidade. Você a define como força de transmutação e princípio de metamorfose.
Você acha que Kalunga foi interpretada de forma equivocada e racista pelas definições teóricas de base branco-colonial? Os ideais raciais e primitivistas contribuíram para uma violência filosófica como conceito?
Eu quero me tornar uma artista capaz de dominar várias disciplinas artísticas, e tenho me dedicado nesse estudo técnico das artes. Sinto que cada técnica possui uma forma de anunciar a história,
como se a cerâmica falasse de um ponto de vista diferente do desenho e do vídeo, e todos esses pontos de vista são privilegiados. Eu amo isso, sentir que
há histórias que não consigo contar com a fotografia,
e que eu preciso pintar, desenhar ou criar
uma instalação para assim realizar meu desejo
de anunciação.
O projeto Kalunga é para muito tempo, quero vivê-lo sem me preocupar com o tempo. Kalunga também anuncia uma experiência temporal, estranha, difícil
de descrever... é realmente algo que vivo em cotidiano nos meus espaços de criação, quando eu estou criando, é estranho... Agora mesmo, escrevendo,
alguma coisa acontece, perco a noção de espaço
e tempo, me sinto presente, me sinto viva, minha respiração é calma, e o tempo já dilatou. Isso é um transe?I sso é Kalunga? Isso é medicinal, espiritual? Certamente, a experiência decriação é sublime, sagrada, comunitária e cotidiana. Certamente,
essa é a nossa origem, digo, a arte.
define para o projeto é justamente transpor à Kalunga a origem do universo – ao fim e ao começo em constante circularidade. Você a define como força de transmutação e princípio de metamorfose.
Você acha que Kalunga foi interpretada de forma equivocada e racista pelas definições teóricas de base branco-colonial? Os ideais raciais e primitivistas contribuíram para uma violência filosófica como conceito?
Eu quero me tornar uma artista capaz de dominar várias disciplinas artísticas, e tenho me dedicado nesse estudo técnico das artes. Sinto que cada técnica possui uma forma de anunciar a história,
como se a cerâmica falasse de um ponto de vista diferente do desenho e do vídeo, e todos esses pontos de vista são privilegiados. Eu amo isso, sentir que
há histórias que não consigo contar com a fotografia,
e que eu preciso pintar, desenhar ou criar
uma instalação para assim realizar meu desejo
de anunciação.
O projeto Kalunga é para muito tempo, quero vivê-lo sem me preocupar com o tempo. Kalunga também anuncia uma experiência temporal, estranha, difícil
de descrever... é realmente algo que vivo em cotidiano nos meus espaços de criação, quando eu estou criando, é estranho... Agora mesmo, escrevendo,
alguma coisa acontece, perco a noção de espaço
e tempo, me sinto presente, me sinto viva, minha respiração é calma, e o tempo já dilatou. Isso é um transe?I sso é Kalunga? Isso é medicinal, espiritual? Certamente, a experiência decriação é sublime, sagrada, comunitária e cotidiana. Certamente,
essa é a nossa origem, digo, a arte.

A viagem ao Marrocos foi prenunciada pela espiritualidade como uma experiência de grande impacto cultural. Não à toa, você escolhe iniciar seu
percurso em África por este país que é tão distante do Brasil em termos de costumes. Vivenciar no corpo e no espírito essas diferenças de visões de mundo
foi importante para você? Quais foram os mais significativos aprendizados e atravessamentos
desse período?
Sua pergunta é muito importante, obrigada por ela. Muitos sabem do meu pertencimento nas culturas vindas da região Ndongo, que hoje nomeamos de culturas bantu, e no Brasil também dizemos culturas congo-angolas. Eu nascina diáspora brasileira desses conhecimentos, e tenho orgulho de fazer parte dessa história de maneira tão verdadeira. Desde pequena, participo de vários ritos de passagem bantu-brasileiro. Ir para o Marrocos e viver o islamismo foi uma das decisões mais contraditórias e saudáveis que eu pude tomar até agora. Lá, eu não sabia nada além de inglês e orar. Lá, eu aprendi tudo novamente... eu olhava para o fim da paisagem e sentia que eu poderia morrer e nascer ali, e ali seria feliz. Eu me senti bem no Saara, me senti bem no silêncio do deserto. E também foi extremamente conflitante. Meu corpo espiritual encontrou com outras medicinas, outros dilemas filosóficos e espirituais. Encontrei com a escassez, a injustiça, a desvalorização da moeda local e com os dilemas do turismo contemporâneo. Nossas orações tinham súplicas diferentes, nossos jejuns almejavam diferentes tipos de sobrevivência. Aprendi muito sobre o islamismo. Me dediqueia sentir a importância de cobrir nossos corpos, e comecei a sentir essa vontade, de passar por multidões com uma presença inquestionável, mas tendo meu fenótipo resguardado. Isso é um dos aspectos da cultura, dentre eles, existe também a violência, capaz de coreografar nossa fé...
Me senti recomeçando, eu estava me recuperando de uma depressão... a depressão é uma oportunidade de mudar nosso modo de viver e ver o mundo.
Isso é a coisa mais difícil que existe, e também
a capacidade de transformar aquilo que estamos geneticamente destinados a viver... mudar!

Nos tempos mais recentes, você passou por alguns países viajando a trabalho e pôde constatar que cada contexto e território possui suas leituras próprias
e seus delírios coloniais sobre raça e gênero. Tal fato, nos faz concordar sobre a importância de factíveis políticas de acesso no Brasil, que promovam uma maior circulação global de pessoas racializadas e das identidades dissidentes. Como essa expansão de consciência tem operado em seu processo de estudo do mundo e das relações humanas?
A humanidade é uma questão de fé, e a arte é a nossa fé operando milagres. A obra que construí na 35a Bienal de São Paulo conta meu posicionamento sobre
essa vida planetária, sobre aquilo que é comum a todos, necessário a todos os povos: o fogo, as plantas, as cores e a fertilidade. O Brasil é uma grande
barreira cultural frente a América Latina. Dentre
os vários motivos para tal fato, existe esse desprezo político para com os povos originários daqui, e isso se
alastra para com os outros países da América Latina.
Destruíram muitos laços indígenas que ultrapassam o Brasil, e dificultaram os que sobreviveram. Digo,
as alianças ancestrais, que se materializam em
caminhos dentro das matas, que ligavam territórios nacionais e internacionais, antes mesmo das nações existirem, e outros intercâmbios advindos do
nomadismo. O próprio plantio ancestral que gerou
a Floresta Amazônica, algo tão grandioso, que, no entanto, somos educadas para enxergar como pequeno, inexistente, sujo, perigoso, primitivo.
Então, o problema maior não é o fato de não falarmos espanhol, mas uma violência criada anteriormente: isso de separar, criminalizar, destruir os laços
originários. Veja, estou falando de origem, novamente. O problema é sempre a origem forjada, pois é lá que colocamos o fundamento de um novo mundo.
É muito importante olharmos para a humanidade dessa forma, compreender que já
ocorreram muitos fins de mundo, e que a origem não é uma simples questão identitária amparada pela cor da pele. A própria história das populações originárias
na América do Sul é anterior ao que conhecemos... acredito que haviam migrações anteriores ao que nos é ensinado sobre Pedro Álvares Cabral. E por falar
na Europa, é importante dizer que o pensamento de
superioridade europeia sobrevive justamente porque não estudamos a história como deveríamos, não estudamos o que acontecia naquela região antes das
invasões cristãs, digo, as medicinas,
as espiritualidades, as ditas bruxas,
as visões de mundo que antecedem o que sabemos,
o que nos acostumamos a saber, sobre a Europa
e todo o arranjo político-planetário dos últimos 100 anos. Vivemos uma colonização particular, própria, diferente das outras que já ocorreram na história da humanidade. O pertencimento à terra e a formação de
grupos culturais acontecem por outros caminhos, outros interesses, vivemos uma realidade diferente
de nossos ancestrais culturais e humanos. A nossa
colonização interfere justamente na nossa origem, temos muita dificuldade em pensar sobre o que aconteceu antes de tudo, porque parece que tudo começou com os povos europeus indo salvar
a África de Satanás.
![]()
essa vida planetária, sobre aquilo que é comum a todos, necessário a todos os povos: o fogo, as plantas, as cores e a fertilidade. O Brasil é uma grande
barreira cultural frente a América Latina. Dentre
os vários motivos para tal fato, existe esse desprezo político para com os povos originários daqui, e isso se
alastra para com os outros países da América Latina.
Destruíram muitos laços indígenas que ultrapassam o Brasil, e dificultaram os que sobreviveram. Digo,
as alianças ancestrais, que se materializam em
caminhos dentro das matas, que ligavam territórios nacionais e internacionais, antes mesmo das nações existirem, e outros intercâmbios advindos do
nomadismo. O próprio plantio ancestral que gerou
a Floresta Amazônica, algo tão grandioso, que, no entanto, somos educadas para enxergar como pequeno, inexistente, sujo, perigoso, primitivo.
Então, o problema maior não é o fato de não falarmos espanhol, mas uma violência criada anteriormente: isso de separar, criminalizar, destruir os laços
originários. Veja, estou falando de origem, novamente. O problema é sempre a origem forjada, pois é lá que colocamos o fundamento de um novo mundo.
É muito importante olharmos para a humanidade dessa forma, compreender que já
ocorreram muitos fins de mundo, e que a origem não é uma simples questão identitária amparada pela cor da pele. A própria história das populações originárias
na América do Sul é anterior ao que conhecemos... acredito que haviam migrações anteriores ao que nos é ensinado sobre Pedro Álvares Cabral. E por falar
na Europa, é importante dizer que o pensamento de
superioridade europeia sobrevive justamente porque não estudamos a história como deveríamos, não estudamos o que acontecia naquela região antes das
invasões cristãs, digo, as medicinas,
as espiritualidades, as ditas bruxas,
as visões de mundo que antecedem o que sabemos,
o que nos acostumamos a saber, sobre a Europa
e todo o arranjo político-planetário dos últimos 100 anos. Vivemos uma colonização particular, própria, diferente das outras que já ocorreram na história da humanidade. O pertencimento à terra e a formação de
grupos culturais acontecem por outros caminhos, outros interesses, vivemos uma realidade diferente
de nossos ancestrais culturais e humanos. A nossa
colonização interfere justamente na nossa origem, temos muita dificuldade em pensar sobre o que aconteceu antes de tudo, porque parece que tudo começou com os povos europeus indo salvar
a África de Satanás.

Método elementar é o nome do trabalho que você vem desenvolvendo a partir de encontros de grupo, onde você coloca em prática os conhecimentos da psicologia, arte e espiritualidade. Já que são dinâmicas que fazem parte do projeto Kalunga,
a origem das espécies, poderíamos defini-las como instaurações suspensas no espaço-tempo?
Ou seja, ao tratar clinicamente daquilo que é elementar, sob a perspectiva de vidamorte contida em Kalunga, é possível criar uma situação temporal que sustente a imaginação para além do trauma racial?
Sim, é possível. O Método Elementar tem sido experimentado desde que eu iniciei minha graduação em psicologia (na UFES), onde eu experimentei
bastante as práticas de psicologia corporal
e esquizoanálise em dinâmicas de grupo. Logo após eu me graduar, continuei tais estudos no mestrado, me
tornando mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP. Então, já são 8 anos me dedicando a tais momentos clínicos de transe, suspensão, expansão,
corporificação e vibração.
Meus posicionamentos filosóficos nos reposicionam numa encruzilhada, e a partir dessa convergência
de caminhos epistêmicos, muitas pessoas decidem
nomear minha prática clínica de espiritualidade. Mas não quero resolver essa equação estranha num único resultado, quero sim estudar tais elementos que
constituem essa trama e acompanhar seus desdobramentos.
Tenho entendido que estou trabalhando clinicamente sobre o que é elementar na nossa vida, e crio essas terapias coletivas para vivenciarmos tais elementos
vitais: respirar, aquecer, esfriar, comunicar, se alimentar e se movimentar. Então, o tempo-espaço como o conhecemos, é muito importante, ou seja,
preciso de uma casa segura para vivermos essas dinâmicas. O lugar também pode ser uma floresta, um deserto, e na praia, como já aconteceu. Mas precisa ser seguro materialmente, justamente para conseguirmos transcender a realidade material. Essa realidade material racial, que gera ansiedade, delírio, psicose, angústia, dor muscular, loucura, saudade, medo.
A respiração é uma dadiva, a partir disso crio um repertório de exercícios, que é o Método Elementar,
a fim de gerar uma força, uma vibração coletiva. Respirar. Mergulhar. Sentir a diluição dos traumas. Submergir. Contemplar à beira do mar. Sentir o vento acariciando nossa pele, e o calor do sol se transformando em lágrimas. Lacrimejar. Continuar respirando profundamente e permitindo que a paz penetre nosso espírito e pensamento, e transforme nossa intuição. Isso é o Método Elementar.

As pinturas produzidas no Marrocos estarão na 35a Bienal de São Paulo. No mesmo período, também
em São Paulo, você estará em exposição
com Atitudes do tempo, obra que integra o projeto Kalunga, a origem das espécies e é uma reverência
ao inquice Quitembo e ao orixá Tempo. O trabalho teve sua primeira montagem como capítulo 1,
na Serpentine Gallery, em Londres, e agora
é apresentado em dois atos: no Instituto Tomie Ohtake e na Galeria Mendes Wood DM. Como o público pode relacionar essas obras entre si? E o quão é fundamental trazer a espiritualidade de Tempo para este momento?
Quitembo e Tempo me ajudaram muito até aqui, sou eternamente grata a essas forças e sei que elas gostam muito de mim também. Essa obra é uma forma de agradecer ao inquice e ao orixá, que são responsáveis pelas estações do ano, pela espera, pela chegada, são forças misteriosas... não sei descrevê-las muito bem. Sei falar sobre o que elas fazem na minha vida... esse tempo de as coisas terminarem, o tempo das coisas voltarem, o tempo que precisamos para
entender, aprender, ensinar e amar... um tempo que estranha, um tempo que dá saudade... esse passado, presente e futuro, e aquele tempo em que tudo se
mistura. Acho isso formidável, majestoso!
É fundamental falar de temporalidades neste momento, porque muitas vezes precisamos sair de um ritmo temporal para conseguir compreender a mensagem da vida. Ainda mais nesse contexto neoliberal, onde tudo está muito acelerado.
Vivemos um tempo tão ansioso e fugaz.
Esses três capítulos estão conectados, estou tentando misturar as histórias temporais das instituições, experimentando árvores diferentes, que fazem sentido em cada ocasião. Como seu eu criasse uma floresta para cada instituição em que eu estou trabalhando, e também portais conectados entre si.
Na Serpentine usamos willow tree/salgueiro, na Mendes Woods usamos ipê, sibipiruna, araucária, grevilha... e no Tomie Ohtake estou trabalhando com
troncos de eucaliptos. Cada uma dessas árvores possui sua consciência, e sua história com
a humanidade, seu uso medicinal, popular, misterioso. As árvores vivem mais do que nós, elas nos veem nascer e morrer e são capazes de contar sobre nossas vidas para outras pessoas. Eu gosto de pensar sobre a consciência das plantas, e de como as plantas são nossas ancestrais fundamentais.
O uso das plantas é complexo, assim como sua existência. Vejamos a monocultura dos eucaliptos sendo responsável pelo sofrimento de tantas
comunidades indígenas no Brasil. Uma questão que nos atinge em muitas camadas, e nos faz pensar em nossa responsabilidade de manipular as formas
de vida existentes. No Tomie Ohtake, o público terá a primeira oportunidade de entrar na floresta do
tempo, estou superanimada para isso. Poder parar o dia e passar um tempo dentro da obra pode proporcionar uma experiência vibracional de descanso, algo que busco em minhas práticas espirituais. Sinto que toda minha disciplina espiritual
é uma jornada para alcançar a paz de meu espírito, e essas obras aoTempo e Quitembo, arrematam esse desejo de proporcionar momentos de paz
a outras pessoas.

Como futuro do projeto, você vislumbra uma escola. Pode nos contar um pouco sobre como estão esses planos e como você encara a educação em sua prática artística?
Eu sou apaixonada por X-Men! Um fato peculiar, eu sei! E desde pequena eu me imagino numa escola daquelas, para pessoas com dons especiais, muitas
vezes ridicularizadas pela sociedade. Essas pessoas geralmente possuem métodos incríveis de aprendizagem e ensino. Então, com esse novo projeto,
quero criar oportunidade para que possamos aprender sobre ciência, medicina, artes, espiritualidade, de outras formas. Eu mesma, na minha trajetória
acadêmica, sempre recebo críticas de professores que dizem que o meu pensamento é muito rápido,
e aprendi a não podar essa minha característica,
mas lapidar, sim. Quero criar um espaço de troca, intercâmbio, de descanso também. Acho que chegou
a hora de tornar esse lugar real! Meu próprio Instituto.
Entrevista por Beatriz Lemos @bzlemos
Introdução à entrevista: Matheus do Reis @thenorteface
Produção Geral e Captação de Vídeo: Gabriel Franco (Barbatana Pictures) @gabriel.vidaboa
Fotografia: Piergiò Geremia @joremia_
ENGLISH TEXT
Castiel, Morroco”
May, 2023
“Every rational equation lead me to Angola, but something made me go against it all and I decided to go to North Africa.”
Artist Castiel Vitorino Brasileiro lives and works on planet Earth. In a conversation with Beatriz Lemos, she mentions past experiences, the end of landscapes, port waits, the violence that choreographs faith, the construction and destruction of bonds, as a form of being her own institution. Castiel presents her new installation in the 35th Bienal de São Paulo — choreographies of the Impossible — and has new two new exhibitions at Mendes Wood DM São Paulo and Instituto Tomie Ohtake.
Castiel Vitorino Brasileiro
Kalunga, The Origin of the Species
Interview by Beatriz Lemos
You arrived in Morocco because of a dream about the desert – a message to seek the imponderability of life in a place that has transformed itself. Did you experience a longing to live in the desert as a counterpoint to the island of your birth? If the desert symbolizes abundant life – being a body-environment that was once water – how did you succeed in accessing the ecological memory of that land and reconnect with your interspecific ancestry during the journey?
Your question is beautiful. It's wonderful to begin our conversation by evoking dreams – these very images that belong to us even when we’re not aware of them. I was born on an island in Espírito Santo, Vitória, and my community is situated at the heart of this island, on one of its highest points, Morro da Fonte Grande. To gaze out at the sea and to wait for someone to arrive or leave our lives is what we have learned to do since forever. Slowly, I am also learning to bid farewell to fears, longings, insecurities, and to await good news.
In Vitória, we experience sudden changes in temperature. Although the tropical heat of the Atlantic Forest refreshes us, leaving us humid, it's still common for the weather to shift within an hour, and rain often follows a sunny day. So, we need to adapt to this inconsistency, which occasionally affects me, making me unwell... yet, we inevitably fall in love and become a part of these rhythms of tides, to the dances between the sun and the rain.
And then one day, I woke up and felt deeply that I should live in the desert. After a few months, I understood that Morocco would be that place. Despite having studied and admired the Central African region, particularly Angola, I genuinely felt the need to carve a different path, not one based on cultural similarities, but a path that was different, new, and challenging for my repertoire. While all rational considerations told me to go to Angola, there was something strange that compelled me to defy that and head to the northern part of the continent.
Without a doubt, Islam helped me connect with the Moroccan land through its daily practice of communal prayer. Fonte Grande is a neighborhood that emerges within the embrace of the Atlantic Forest, and even today, we refer to the beginning of the area on top of the hill where the forest surrounds you, and where there are no houses for humans, as "Boca da Mata" (Mouth of the Forest). In Morocco, there are forests, lakes, snow, but we don’t see them. I was drawn to the seas of sand – they looked like waves, reminding me of the ocean. I was afraid of being engulfed and yet had the desire to enter them. Deserts are not empty places, so I prayed every day to find peace and deal better with the conflicts of my adaptation – conflicts rooted in questions of origin.
We arrived in Marrakech during Ramadan and I gradually learned about the significance of dates (fruit), water, and silence for those people. Cooking my own food every day helped me settle; I was learning to create a new ground and to choose new lives to be sown there. I think connections were formed by learning new ways to nourish myself, in every sense.
Kalunga, the Origin of Species is a long-term research project, or more accurately, an endless exploration. This is because the approach you define for the project is precisely to transpose the origins of the universe to Kalunga – a constant circularity encompassing both ends and beginnings. You define Kalunga as a force of transmutation and a principle of metamorphosis. Do you believe that Kalunga might have been misconstrued through racist interpretations stemming from white-colonial theoretical definitions? Have racial and primitivist ideals played a role in perpetuating philosophical violence as a concept?
Yes, there is indeed a colonial interference in the Kalunguian experience, so to speak. I mean, the issue of the word and its translation truly exists, leading us to think of Kalunga as synonymous with death, signifying the end, in other words, sadness. In Brazil, the word survives in its post-death life force. Here, our communities understand Kalunga as a cemetery, a place for souls to rest and work. I also advocate for Kalunga as a principle of transfiguration. Kalunga is a moment of death, settling, and gestation all at once. Kalunga is an opportunity for irrevocable change, even if the concept is criminalized or demonized. Kalunga is a force of transformation. Kalunga is life in its indescribable mystery. Kalunga is life beyond words. It disrupts colonial thought, undermining the colonial cultural belief that we were born flawed. The experience announced by the word Kalunga, the force proclaimed by these letters, tears apart the history that claims that we are incapable of changing our destiny predetermined by racial violence; in other words, it breaks the curse of oblivion; it shatters the history that claims that we have no past, that we are born in sin and have deficient souls. So everything changes. Kalunga is change itself.
Those who follow your artistic practice acknowledge trance, transmutation, and spiritual discipline as an integral part of a consistent set of working methodologies, expressing themselves through discourse and aesthetics. Could you provide some insight into this research in practical terms? How do you organize Kalunga, The Origin of Species, as an ongoing project over time? How does it manifest in your daily life, whether while traveling, at home, or in your studio?
I want to become an artist capable of mastering various artistic disciplines, and I have dedicated myself to the technical study of the arts. I feel that each technique possesses a unique way of narrating a story, as if ceramics spoke from a different perspective than drawing or video, and all these perspectives are inherently valuable. I love that, the idea that there are stories I cannot convey through photography, and that I need to paint, draw, or create an installation to fulfill my desire for expression.
The Kalunga project is intended to unfold over a long period; I want to live it without being constrained by time. Kalunga also announces a temporal experience, one that is strange, difficult to describe... it's something I experience in my daily creative spaces, in the act of creating, it's strange... Right now, as I write these words, something is happening; I lose a sense of space and time; I feel present, alive; my breathing is calm, and time has already expanded. Is this a trance? Is this Kalunga? Is it medicinal, spiritual? Undoubtedly, the experience of creation is sublime, sacred, communal, and routine. Undoubtedly, this is our origin,
I mean, art.
The journey to Morocco was foreshadowed by spirituality as a culturally impactful experience. It's no coincidence that you chose to embark on your African journey in a country so distinct from Brazil in terms of customs. Was it important for you to embody and experience these differences in worldview both physically and spiritually? What were the most significant lessons and transformations during this period?
Your question is very significant; thank you for asking it. Many are aware of my connection to cultures originating from the Ndongo region, now known as Bantu cultures, and in Brazil, we also refer to them as Congo-Angolan cultures. I was born into the Brazilian diaspora of these traditions, and I'm proud of being an authentic part of this history.
Since childhood, I've engaged in various Bantu-Brazilian rites of passage. Going to Morocco and embracing Islam was one of the most paradoxical yet fulfilling decisions I've ever made. There, I knew nothing beyond English and prayer. There, I learned everything anew... I stared at the distant landscape and felt as though I could die and be reborn right there, finding happiness. I felt at ease in the Sahara, at peace in the desert's silence.
However, it was also extremely conflicting. My spiritual self encountered different medicines, and other philosophical and spiritual dilemmas. I faced scarcity, injustice, the devaluation of local currency, and the complexities of contemporary tourism. Our prayers held different supplications; our fasts aimed at different forms of survival. I learned a great deal about Islam. I devoted myself to understanding the significance of covering our bodies and started to feel the desire to move through crowds with an unquestionable presence while preserving my phenotype. This is one facet of the culture; within it also resides violence, capable of choreographing our faith...
I felt as though I were starting anew. I was recovering from depression, which offers an opportunity to change our way of living and seeing the world. It's the most challenging thing, yet it also provides the potential to transform what we are genetically destined to experience... to change!
In recent times, you've traveled to several countries for work and have noticed that each context and region carries its own interpretations and colonial delusions about race and gender. This reality emphasizes the importance of feasible access policies in Brazil, promoting a broader global movement of racialized individuals and dissenting identities. How has this expanded awareness impacted your approach to studying the world and human relationships?
Humanity is a matter of faith, and art is our faith performing miracles. The work I created for the 35th São Paulo Biennial reflects my perspective on our planetary existence, on what is universal and essential to all peoples: fire, plants, colors, and fertility. Brazil poses a significant cultural barrier within Latin America. Among the many reasons for this, there's the political disregard for the Indigenous peoples here, and this extends to other Latin American countries.
Several indigenous connections that extended beyond Brazil were destroyed, and those that survived were hindered. I'm alluding to ancestral alliances that took the shape of forest pathways, connecting national and international territories even before nations existed, as well as other interactions stemming from nomadism. The very ancestral cultivation that gave rise to the Amazon Rainforest, something so monumental, is unfortunately often seen as insignificant, nonexistent, dirty, dangerous, and primitive.
The biggest issue isn't the fact that we don't speak Spanish; it's the violence that was inflicted earlier: the act of separation, criminalization, and the destruction of native connections. This takes me back to the topic of origin. The core problem is always our fabricated origin because that's where we lay the foundation for a new world. It's imperative to look at humanity this way, to recognize that many worlds have already ended, and origin isn't just a matter of identity tied to skin color. The history of native populations in South America predates what we know... I believe that migrations took place before what we're taught about Pedro Álvares Cabral. Speaking of Europe, it's vital to understand that the idea of European supremacy endures because we haven't studied history as we should have, failing to delve into the region’s history before the Christian invasions – including medicines, spiritualities, those known as witches, and the worldviews that precede what we know, that precede what we've grown accustomed to knowing, about Europe and the global political arrangement of the last 100 years.
We experience a unique form of colonization, distinct from other forms that happened before in human history. Land belonging and the formation of cultural groups have followed different paths, driven by different interests. We inhabit a reality that is different from our cultural and human ancestors. Our colonization directly interferes with our origin; we struggle to reflect on what happened before it all began, as it seems that everything began with European peoples setting out to save Africa from Satan.
Elementary Method is the title of the work you’ve been developing through group meetings, where you apply your knowledge of psychology, art, and spirituality. Since these dynamics are integral to Kalunga, The Origin of Species, could we define them as suspended installations in space-time? In other words, by clinically addressing what is fundamental in the life-death perspective contained in Kalunga, is it possible to create a temporal situation that sustains imagination beyond racial trauma?
Yes, it’s possible. I’ve been experimenting with the Elementary Method since I began my psychology degree (at UFES), where I extensively explored body psychology practices and group schizoanalysis. After graduating, I continued these studies with a master's in clinical psychology at PUC-SP. So, for 8 years, I’ve dedicated myself to these clinical instances of trance, suspension, expansion, embodiment, and vibration.
My philosophical perspectives place me at a crossroads, and from this intersection of epistemic knowledge paths, many people opt to label my clinical practice as spirituality. However, I don't wish to simplify this strange equation into a single outcome; my intention is to study the elements that constitute this framework and follow their progression.
I’ve come to realize that my clinical work revolves around fundamental aspects of our lives. I design these collective therapies to engage with vital elements such as breathing, warming, cooling, communicating, nourishing, and moving. Therefore, our familiar notion of time-space is crucial; I need a secure setting to immerse myself in these dynamics. This place can be a forest, a desert, or a beach, as previously experienced. But it needs to be a secure place in material terms, precisely to enable us to transcend material reality, the same racial material reality that generates so much anxiety, delusion, psychosis, anguish, muscle pain, madness, longing, and fear.
Breathing is a gift; based on this, I create a repertoire of exercises, which is the Elementary Method, in order to generate a collective force, a vibration. To breathe. To dive. To sense the dissolution of traumas. To submerge. To gaze by the seashore. To feel the wind caressing our skin and the warmth of the sun turning into tears. To shed tears. To keep breathing deeply and allowing peace to permeate our spirit and thoughts, and to transform our intuition. This is the Elementary Method.
The paintings created in Morocco will be showcased at the 35th São Paulo Biennial. During the same period, also in São Paulo, there will be an exhibition titled Atitudes do tempo (Attitudes of Time) featuring a work that is part of Kalunga, the Origin of Species, paying homage to the deities Quitembo (inquice) and Time (orisha). This work was initially presented as Chapter 1 at the Serpentine Gallery in London and is now displayed in two further acts at the Instituto Tomie Ohtake and at Galeria Mendes Wood DM. How can the audience establish connections between these works? And how pivotal is it to bring the spirituality of Time to this juncture?
Quitembo and Time have been great sources of support on my journey, and I’m forever grateful for these forces, knowing that they are also very fond of me. This work is a way of expressing gratitude to the inquice and the orisha, who are responsible for the seasons, waiting, and arrival – mysterious forces that I can't describe well. But I can talk about what they do in my life... the time of things concluding, the time of things returning, the time required for understanding, learning, teaching, and loving... a time that feels strange, a time that brings nostalgia... encompassing the past, the present, and the future; the time where everything merges into one. I find this awe-inspiring, majestic!
It’s crucial to talk about temporalities right now because we often need to step out of a temporal rhythm to comprehend life's message, particularly in our neoliberal context where everything is moving so fast. We're living in such an anxious and fleeting time.
The three chapters are interconnected; I'm trying to merge the temporal histories of the three institutions, experimenting with different trees that make sense within each context. It is as if I were creating a forest for each institution I'm collaborating with and also establishing portals between them.
At Serpentine, we used willow trees; at Mendes Wood, we incorporated ipê, sibipiruna, araucaria, and grevillea… and at Tomie Ohtake, I'm working with eucalyptus logs. Each of these trees possesses its own consciousness and a history intertwined with humanity, including its medicinal, popular, and mysterious uses. Trees outlive us; they bear witness to our births and deaths; they are capable of recounting our lives to others. I enjoy contemplating the consciousness of plants and how they are our fundamental ancestors.
The use of plants is complex, much like their existence. Take, for instance, the eucalyptus monoculture, which is responsible for the suffering endured by so many Indigenous communities in Brazil. This is an issue that affects us on multiple levels, making us reflect on our responsibility when it comes to manipulating existing life forms.
At Tomie Ohtake, the audience will have the first opportunity to enter the forest of time – something I’m very excited about. Being able to pause the day and spend time within the artwork can offer a restful vibrational experience, something I seek in my spiritual practice. I feel that all my spiritual discipline is a journey to attain inner peace, and these works dedicated to Time and Quitembo encapsulate this desire to provide moments of peace to others.
As a future prospect for your project, you envision a school. Could you please elaborate on these plans and how you perceive education within your artistic practice?
I love X-Men! An odd fact, I admit! Ever since I was young, I've always pictured myself in a school like that, designed for individuals with special gifts that are often ridiculed by society. These individuals usually possess incredible methods of learning and teaching. With this new project, I want to create opportunities for us to learn about science, medicine, arts, spirituality, in different ways. In my own academic journey, I've often encountered criticism from teachers who have said that my thinking is too fast. I've learned not to suppress this aspect of myself but rather refine it. My intention is to establish a space for exchange, interconnection, and rest as well. I believe that the time has come to turn this place into reality!
My own institute.
Interview Beatriz Lemos @bzlemos
Intro Matheus do Reis @thenorteface
Production and Video Gabriel Franco (Barbatana Pictures) @gabriel.vidaboa
Photography Piergiò Geremia @joremia_