LIMBO


14 de maio de 2020

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Texto Silvia Rogar
Fotografia Hick Duarte


Ao retratar de maneira recorrente o tempo em que vivemos sob a ótica da juventude, Hick Duarte vem se firmando como um dos expoentes da narrativa visual do país. Em sua quinta exposição, Limbo, ele retorna a questões urgentes de seu universo de análise e faz uma reflexão sobre os dilemas da juventude e do estado emocional do jovem em um ano particularmente conflituoso no Brasil.







Com olhar múltiplo, Hick recorre a diferentes meios – fotografia, vídeo, instalação e uma publicação impressa – para criar um exercício de  observações do que chama de “estado de suspensão da juventude”. Um lugar de indefinições e inquietações, porém transitório, ocupado por uma geração impactada pela sobrecarga de informações de todos os tipos em seu cotidiano, seja nas redes sociais ou na vida offline — de notícias trágicas, como assassinatos brutais e catástrofes climáticas, ao último look ou meme do momento, “tudo se mistura, perde-se a noção de relevância e cria-se uma sensação de impotência”, analisa Hick.









“A juventude é uma fase frágil, de construção e descobertas, na qual você precisa lidar com uma série de dilemas internos. Em um ano tão tortuoso na política nacional, soma-se a isso uma avalanche de questões externas: exclusão, discriminação das mais diferentes formas, falta de oportunidades de trabalho, expectativas de como a sua essência será percebida em tempos de retrocessos sociais. Vejo hoje no jovem certa paralisia, um ‘estado de suspensão’. O título da exposição remete a este intervalo entre o choque inevitável neste momento do País e a reação, o contra-ataque. O limbo é um momento de transição”, explica Hick, único brasileiro a integrar a lista NEW WAVE: Creatives , que elegeu os 100 jovens talentos mais inovadores do mundo no The Fashion Awards, premiação mais relevante do British Fashion Council, em dezembro passado. O resultado são imagens fortes, com uma visão muito pessoal, mas que carregam também poesia e certa carga de melancolia.





















Para construir esta narrativa, três ideias serviram de pilares: tensão, escapismo e cura. “Tento ilustrar a maneira como uma parcela desta geração vem escolhendo se distanciar do caos urbano para se encontrar. Não se trata de um escapismo covarde: é um afastamento temporário para um resgate à sua essência, equilíbrio e saúde mental. Só assim conseguiremos seguir com ações realmente eficazes de mudança”, acredita Hick. O vermelho permeia todo o trabalho, destacando-se numa bandeira com a foto de um olho estampada – imagem de um jovem chamado Mateus, presente na exposição RENTE , que Hick assinou em 2017. Além da metalinguagem, o elemento tem muitos outros simbolismos. “A bandeira vermelha representa sangue, política, sirene, alerta, paixão”, diz. “O olho tem a ver com sinal de vida, monitoramento. Apesar de circunstancialmente imóvel, formamos uma juventude atenta e com olhar crítico.”



















Os protagonistas das imagens fazem parte da rede de conexões do autor, assim como os colaboradores que atuaram a seu lado no projeto. O curador é o artista plástico Maurício Ianês, que resumiu com precisão a exposição e sua reflexão. “Medir o pulso dessa juventude, sobretudo neste momento preparatório de tensão, é uma qualidade rara para um fotógrafo. Deve-se pra isso viver este mesmo momento ou ter um olhar e sensibilidades desenvolvidas o suficiente para se ouvir o coração coletivo batendo no fundo dos olhares muitas vezes desolados. Hick consegue os dois.”






















































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