PROJETO SEMENTE 


24 de agosto de 2020

O “Projeto Semente” é uma iniciativa da estilista Vicenta Perrotta e das artistas que compõem a rede do seu Ateliê TRANSmoras. Que se auto-organizaram para construir um projeto de costura e geração de renda emergencial na pandemia.


︎

Fotos Cassia Tabatini 
Styling Dudu Bertholini
Idealização @_rafakennedy @antoniaquerbrincar @vicenta_perrotta
Produção @atelietransmoras, Cinthia Kiste
Operador Digital Magu Mariott
Props e Set Ana Ariette


Durante o mês de julho , sete travestis artistas - costureiras, artesãs, bordadeiras - atenderam à oficina do projeto virtualmente, onde criaram suas próprias versões de uma mesma peça de roupa, o Moletom-Cachecol, criação de Perrotta.

Todas as peças foram feitas à partir de peças de doações e descartes têxteis. Cada peça é única e assinada pela costureira que a confeccionou.

Aqui, o termo “upcycling” já não faz mais sentido para corpas transvestigêneres, por ser uma tecnologia construída e denominada pela cisgeneridade. Sendo assim, a criação a partir de descartes, somada a criatividade e subjetividade de pessoas trans é lido como ‘transmutação têxtil”. Segundo Vicenta, a “Transmutação Têxtil” permite inúmeros rompimentos com processos industrializados, comportamento de consumo, e todas as opressões que permeiam e constroem a sociedade baseada no capitalismo e na desnaturalização das corpas.







MANIFESTO
TRANSMUTAÇÃO TÊXTIL : TECNOLOGIA TRAVESTI

POR BIONCINHA

TRANSMUTAÇÃO É UM PROCESSO DE ACÚMULO DE MUTAÇÃO. MUTAÇÃO É MUDANÇA DE FORMA OU ESSÊNCIA.A PARTIR DA OBSERVAÇÃO DO QUE SE CONTEMPLA A CADA ESTADO DE MUTAÇÃO.

COMPREENDENDO QUE NASCEMOS E VIVEMOS EM UMA SOCIEDADE RACISTA, CIS E PATRIARCAL.

A TRANSMUTAÇÃO SE MOSTRA EM EVIDÊNCIA A CADA NOVA PROPOSIÇÃO TOTALMENTE OPOSTAS AO QUE QUALQUER OBJETO TECNICAMENTE SE PROPONHA. ESSA TRANSIÇÃO SE INICIA NO PERÍODO DA INFÂNCIA.

A CADA NOVA FUNCIONALIDADE QUE A CRIANÇA APRESENTA PARA ALGO QUE TENHA UM OUTRA FUNÇÃO.

A CADA SUPOSTO GAROTO QUE BRINQUE COM A TOALHA COMO SE FOSSE UM LONGO CABELO ATÉ A BUNDA.

A CADA SUPOSTA GAROTA QUE PREFERE ROUPAS MAIS LARGAS.
A CADA SUPOSTO GAROTO QUE USA ROUPAS QUE TECNICAMENTE NÃO TE SIRVA MAIS.

A CADA SUPOSTA GAROTA QUE NÃO GOSTA DE USAR CALCINHAS CAVADAS.
É SABIDO QUE ESSAS POSTURAS NÃO SÃO BEM ACEITAS.RECRIMINADAS NO  MBITO FAMILIAR E NEGLIGENCIADAS NAS ESCOLAS.

SENDO ASSIM O APAGAMENTO DAS EXPRESSÕES DAS POTÊNCIAS SE INICIA NA NEGOCIAÇÃO DESSA CRIANÇA CONSIGO MESMA DE COMO ENFRENTAR ESSAS CENSURAS.

SE DESDOBRANDO EM INÚMERAS VIVÊNCIAS IMPOSSÍVEIS DE MOSTRAR EM TEXTO.

O FATO É QUE ESSA CRIANÇA CRESCE OBSERVANDO SEUS AMBIENTES DE CONVÍVIO E SE ADAPTANDO A ELES E NÃO A SI MESMA. NA ADOLESCÊNCIA PERCEBE QUE NÃO HÁ OUTRA VIA QUE NÃO AFRONTAR ESSAS IDEIAS ESTRUTURAIS.
DESOBEDIÊNCIA SE TORNA HÁBITO.




                               


CORTANDO GOLAS DE CAMISETAS, PERNAS DE CALÇAS. USANDO ROUPAS MENORES OU MAIORES DO QUE SUPOSTAMENTE SEJA O SEU NÚMERO.

A COSTURA SEMPRE SE INICIA NO PROCESSO DE OBSERVAÇÃO.DO TRABALHO DE UMA AVÓ, UMA TIA, UMA MÃE OU ATÉ UMA FAMÍLIA INTEIRA DE COSTUREIRAS.EM SUA GRANDE MAIORIA EXPLORADAS POR UMA BAIXA RENDA FIXA.

MAS A COSTURA SE MOSTRA COMO FERRAMENTA DE TRANSMUTAÇÃO. DE FORMA MANUAL OU COM UMA MÁQUINA DE INFINITAS POSSIBILIDADES DE CRIAÇÃO A PARTIR DA UNIÃO DE PEDAÇOS COM AGULHA E LINHA.
TRANSMUTAÇÃO TÊXTIL SE APRESENTA COMO UM MOVIMENTO ESTÉTICO DECOLONIAL.

QUE VISUALIZA POTÊNCIA ONDE A CISGENERIDADE NÃO CONSEGUE VER. A VISÃO DE QUE ESTÃO ABANDONANDO ROUPAS E TECIDOS PELAS RUAS. COMO O PONTO DE ÔNIBUS DE FRENTE AO ATELIÊ TRANSMORAS ONDE VICENTA PERROTTA VIU EM UM MONTE DE CAMISETA UM GUARDA ROUPA INTEIRO QUE CAIBA NO MAIOR NÚMERO DE CORPOS POSSÍVEIS.    

TRANSMUTAÇÃO TÊXTIL
 

ESTADO DE REVOLTA AO ACÚMULO INDUSTRIAL CISGÊNERO DE MODA.A INDÚSTRIA TÊXTIL É A SEGUNDA MAIOR POLUENTE DO MUNDO, ATRÁS DA PECUÁRIA QUE ALIMENTA A FAMÍLIA TRADICIONAL TODOS OS DIAS.    
E NÓS PESSOAS TRANS E TRAVESTIS NÃO NEGOCIAMOS COM PORCOS, NOS ACOLHEMOS PARA ENTENDER O DESENVOLVIMENTO DE VIDAS. DAMOS VIDAS A MATERIAIS ESQUECIDOS.PROPOMOS UMA NOVA ESTÉTICA POSSÍVEL PARA SE DESFILAR PELAS RUAS DO FIM DO PATRIARCADO. SABEMOS QUE SÓ NOSSA FÉ MODIFICA ESPAÇOS CRIATIVOS EM ESPAÇOS DE CURA!SOMOS CRIADORAS DE MILAGRES!

MESMO ASSIM TRABALHAMOS NO CAMPO DO MISTÉRIO. PORQUE ESSA TECNOLOGIA É NOSSA. TRANSMUTAÇÃO TÊXTIL SÃO SEMENTES ACOLHIDAS, PLANTADAS, REGADAS, OBSERVADAS, CULTIVADAS POR TRAVESTIS.TRANSMUTAÇÃO TÊXTIL TAMBÉM SÃO ÁRVORES, FLORESTAS INTEIRAS CULTIVADAS POR TRAVESTIS. POR ISSO EM ESTADO DE CHAMA VIOLETA, RESPIRO E REPITO:TRANSMUTAÇÃO TÊXTIL: UMA TECNOLOGIA TRANSVESTIGENERE!













POR ELIS ROSA

O corpo capaz de transgredir a norma é o corpo da travesti. E essa transgressão se dá porque esse corpo confronta diretamente a sociedade cis-heteronormativa. É um corpo que não se enquadra, não se limita e que não teme o que está posto. Um dos seus objetivos é desestabilizar a estrutura e alertá-la que a sociedade está em constante transmutação. É um corpo desobediente, que denuncia e ameaça: denuncia o cistema e ameaça toda a estrutura de gênero. É sagrado, muito embora a sociedade não o reconheça assim por conta do ódio, intolerância e preconceito e também é um corpo que transita por todos os espaços e está em constante diálogo com o todo, seja através da fala ou da performance. Esse corpo é belo, potente e revolucionário e está pronto para o combate. Nós, mulheres trans e travestis lutamos todos os dias para permanecer vivas. Nossa luta se inicia quando ousamos nascer em uma sociedade que não nos quer aqui, que ainda não reconheceu a potência das nossas respectivas existências, pois está mergulhada na transfobia, racismo e capitalismo. Somos muitas: pretas, brancas, indígenas, ameríndias, pessoas com deficiência, acadêmicas, articuladoras, ativistas, modelos, performances, estilistas, ou seja, seres plurais. E mesmo com o nosso direito de ir e vir ameaçado, ainda continuamos transitando por todos os espaços - transformando e ressignificando processos e construções obsoletas e, para além disso, construindo novas narrativas e saberes. Elis rosa é uma mulher trans, preta, ativista t, articuladora política, comunicadora, pensadora livre e graduada em direito. Recentemente tem flertado com a arte e transitado por espaços que permitem o desabrochar desse corpo artístico e político. Seu objetivo é a emancipação dos corpos marginalizados pela sociedade e estado e seus respectivos reconhecimentos sociais.
Seguimos em luta.










POR XANTANA XANTARA

O lixo pode-se manifestar-se enquanto anticolonial. Isto porque a partir do momento em que qualquer coisa “transforma-se” em lixo, “perde-se” seu uso enquanto vital e “torna-se” o instrumento colonial, ou seja; para que o projeto de sociedade colonial de certo o lixo não tem valor, precisa-se distancia-lo de acordo com o corpo que habita o espaço e o poder. Não pode ser um símbolo de civilização e nem natureza.
O lixo é o plástico terceiro gênero, que se julga vir depois porque ignora-se o que veio antes. Ele é o que tenta-se evitar, mas aparente inevitável.  Quais são as consequências de  usar-lo enquanto artífice ao combate das colonialidades, poder olhá-lo enquanto ouro, semente - percebê-lo enquanto uma tecnologia prestes a transfazer os seus próprio paradigmas e posicioná-lo enquanto resposta pro próprio consumo.
As imagens de divulgação do projeto semente  foram feitas em parceria com a fort magazine, com fotos de cássia tabatini e styling de dudu bertholini, e apoio da laudes foundation e do fundo elas.Oito mulheres,  diretamente impactadas  com o projeto, posaram no próprio atelier transmoras, que desde  2013 articula direitos trans na cidade de campinas. em 2019 o transmoras impactou mais de 5 mil pessoas em suas ações, entes desfiles, eventos e cursos voltados ao empoderamento de comunidades vulnerabilizadas.

As peças  já estão à venda na loja virtual da página da @use_vp , marca de perrota, pelo valor de R$400 e sua venda será diretamente revertida para as costureiras, visando dar continuidade e expansão à essa semente.



Como comprar | Loja Virtual | Instagram da @use_vp | Valor por peças R$400

apoio @fundoelas @fort_magazine @festivalmarsha @vouassim Fotos : @cassiatabatini ideliazação: @_rafakennedy @antoniaquerbrincar @vicenta_perrotta arte: @xantanaxantara produção: @atelietransmoras artistas convidadas:.@bioncinha - Bioncinha do Brasil .Paula Mel @labella1atelie - Mel Pinheiro @vaskeserafim - Dill Vaskes @pretynhaaa5 - Pretynha @xantanaxantara - xantana Xantara@marsamelie - Amélie Mars  Modelas : @manauaraclandestina - Manauara Clandestina @soudeusanago - Deuzidara Roberta @1madeusa - matheusa Souza @xantanaxantara @elisrosa - Elis rosa @jademagalhaesx - Jade Magalhães@vaskeserafim - Dill Vaskes @pretynhaaa5 - Pretynha @marsamelie - Amélie Mars  Make up  : @jademagalhaesx - Jade Magalhães @Joaobeauty - João Francavilla

Conheça mais sobre o trabalho do Projeto Semente aqui