Re-Roupa


22 de julho de 2020

Em tempo, é preciso enxergar além da roupa. Batemos um papo com Gabriela Mazepa, nome por trás do Re-Roupa para compreender como funciona a plataforma de criação e ressignificação de peças de roupa.

︎


Entrevista Thatiana Mazza
Direção de Fotografia e Filme Flávio Melgarejo
Assistente de Foto Caio Marcatto
Styling e Direção de Arte Yumi Kurita
Assistência de Moda Giovanna Gobbi
Roteiro Luana Schabib
Looks Re-Roupa
Beleza Casagrande Gui 
Assistência de Beleza Carol Soares
Modelos Lux Tenório e Samuel Solar



Em uma era da produção acelerada e da demora urgente, o fazer roupa - e o usar roupa vem sendo ressignificados por algumas pessoas que estão desenvolvendo novas dinâmicas e novos formatos do fazer moda. As peças da Re-Roupa, plataforma de criação e do tecer, estão formando pontes entre as transformações do futuro e o resgate ao passado. Nós somos redirecionados a repensar sobre a reconstrução do novo criar e usar.

Gabriela Mazepa é artista têxtil, dançarina contemporânea e ponto de partida para uma concepção antiga - o reaproveitar tecidos - mas de novos horizontes. A Re-Roupa promove um debate, e também a materialização de um fazer coletivo. No projeto fins de rolo terminam em novos começos de ideias e peças. Conversamos com ela para entender o fio desta iniciativa que traz uma nova luz sobre o upcycling do amanhã.

Thatiana: O que é e como surgiu o Re-Roupa?

Gabriela: O Re-Roupa surgiu como resultado de um projeto de graduação meu, há mais de 10 anos. Eu coletava roupas e pedia para que as pessoas contassem suas histórias. E a partir dessas histórias eu ia transformando as peças, por trás da memória afetiva, do que existia na roupa para além da coisa comercial, da moda. Não tinha nada a ver com moda, até porque eu estudei em uma escola de artes.  Eu fui sacando que tinha essa ligação. As pessoas sempre têm o que contar sobre suas roupas. Eu percebi que tinha muita roupa sobrando no mundo, que isso ia em um estrada, enquanto em outra estrada vinha uma produção exagerada, muita roupa que sobrava, e não se sabia muito bem o que se fazer com esse resíduo. Então surgiu desse projeto que eu fui mergulhando cada vez mais nele, pra entender como falar de outras possibilidades e formas de se fazer roupa. E que hoje é uma marca onde eu vendo roupa, crio desfiles, faço editoriais, enfim, sempre reaproveitando esse material, é uma plataforma de educação, onde a gente faz oficinas de criação livre, em grupos produtivos, com a capacitação de costureiras. Vamos ao maior número de locais possíveis. Isto é o Re-Roupa hoje, esse leque de coisas. Nós estamos atuando em uma diversidade de ações, sendo chamados para atuar junto a diversas pessoas em comunidades, em grupos onde precisa-se entender como vender esses produtos, aperfeiçoar a peça. Então a nossa atuação vai para além de só fazer roupa.

T: Como se dá o processo criativo do desenvolvimento das roupas?

G: ´É um processo bem autoral, porque muitas das peças são únicas, ou seja, ou eu ou as mulheres que trabalham comigo fazem as peças uma a uma. Porque a matéria-prima é abundante, mas é muito variada, então as peças ficam diferentes umas das outras. E nos grupos [o processo] é coletivo. As oficinas acontecem com grupos de pessoas que não necessariamente se conhecem, então é um desenvolvimento criativo bem coletivo. Uma pessoa vai complementando o que a outra fez, então a peça final é o resultado de várias mãos, por onde passou esse tecido.

T: Como você vê o futuro da indústria da moda diante do contexto de pandemia no qual que estamos vivendo? Quais transformações podemos esperar?

G: A nossa relação com aquilo que a gente compra e usa, ela é muito pessoal, apesar da gente ter um mercado que tenta padronizar isso. e ela depende de vários fatores, além do nosso gosto, daquilo que a gente deseja ter, e das nossas condições. Então eu acho que nesse momento temos uma pista muito interessante, quando a gente fala sobre fazer as próprias coisas, quando falamos de comprar local, quando a gente fala de consumir menos. Eu acho que o cenário atual está nos dando essas pistas. Só que o cuidado que eu acredito que tenha que se ter, mais uma vez, é que isso não fique em uma bolha da classe média alta muito pequena, perto do resto da população, que detém esses privilégios de poder estar em casa e escolher produtos orgânicos, e costurar. e fazer suas coisas porque tem tempo. Tempo é a maior riqueza que se pode ter, quando você pode fazer escolhas. O sistema todo é feito para que a gente consuma cada vez mais, porque essa máquina depende de muita gente produzindo, muita gente consumindo, muita coisa sendo feita e muito resíduo sendo gerado. A gente não dá conta de consumir tudo o que é produzido, principalmente na moda. A moda é feita em um ciclo para que se tenha uma nova coleção logo, uma nova cor logo, um novo desejo logo, para que as pessoas consumam muito rapidamente. Então qualquer manifestação que vá contra isso, como por exemplo, nós propomos peças únicas. A pessoa vai comprar se ela realmente gostar muito daquilo, se realmente for do tamanho dela, se aquilo realmente fizer sentido pra ela. Produções locais, transparentes, isso tudo é, de certa forma, novas maneiras de se produzir. Na verdade novas, e muito antigas, porque se a gente olhar pra história, tudo começou muito desta forma, antes da Revolução Industrial, quando a fabricação têxtil foi para níveis exorbitantes de produção, e o mundo foi se modificando até chegar onde estamos hoje. Mas nesta forma do mundo de hoje, são sim novas formas de se produzir. Eu acho que a indústria por conta da pressão dos consumidores, principalmente através da internet, onde as pessoas têm acesso a informações sobre as marcas, tende a mudar. Você já vê grandes marcas com projetos de reaproveitamento de resíduos dentro da própria fábrica, com logística reversa, investindo dinheiro em projetos sociais, então eu acho que é uma luz no fim do túnel, mas a sociedade está nesse mecanismo onde tudo acontece ao mesmo tempo. Muita gente vai aproveitar essa possibilidade de mudança, e muita gente vai correr de volta para como era antes com mais agressividade ainda de produção, porque perdeu-se muito dinheiro. Eu entendo as duas coisas acontecendo ao mesmo tempo, infelizmente.

T: E como as pessoas podem participar das oficinas e ajudar a somar nesta mudança?

G: Nossas oficinas acontecem no intervalo de mais ou menos 2 meses. Tem uma agenda no nosso site, onde as pessoas podem se inscrever. As oficinas acontecem em diferentes cidades, com diferentes público-alvo, investimentos. Todos também podem acompanhar através das redes sociais.

























Conheça mais o trabalho de Gabriela Mazepa aqui.

Mark