Rogger
para Roger



26  de julho de 2023

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Fotógrafo carioca e baseado em São Paulo desde 2020



Fotografia @roggercordeiro
Arte @hugstex
Styling @miguelcuenca
Beauty @valesaig
Equipe de Foto @machador_ @lucase.pereirap @brunoleithardt
Produção e Assistência de Arte @fiferreira_ @vicfealves
Assistente de Beleza @_makeupniara

 

Sempre viveu em um lugar de sonho. Em seu novo editorial, falamos um pouco com ele sobre sua história, seu processo criativo e como ele chegou ao seu incrível resultado.


 Neste editorial, trabalhei bastante com a questão da memória afetiva. Sou carioca e venho de um dos bairros com o menor índice de desenvolvimento da zona oeste do Rio de Janeiro. Apesar de nunca ter falado ou usado isso como base para os meus trabalhos explicitamente, o fato de eu ter passado minha infância morando num bairro pobre e bastante perigoso, me fez crescer numa bolha solitária e dentro de um universo muito particular. Apesar disso, eu sou muito grato e diria sortudo pela forma que meus pais conduziram minha criação. Sempre fui muito criativo e, inconscientemente, estética e projeto sempre estiveram presentes na minha infância. Então, quando digo sobre ser sortudo na criação, foi porque eu não sofri repressão por ser quem eu era, pelo contrário, eu tive apoio para me desenvolver criativamente com coisas que eu gostava.



 No entanto, sempre houve um esforço dos meus pais de me oferecerem uma realidade diferente daquela na região que eu nasci, e por isso que, cognitivamente, o sonho e a estética sempre foram atmosferas presentes no meu trabalho; porque me remetem à esse lugar de proteção, solidão, onírico e ao mesmo de resistência e contramão à realidade que eu estava inserido durante a infância. Eu vejo esses elementos neste editorial para Fort pelas cores, na atmosfera. Temos a modelo ali apoiada num colchão, então pra mim faz bastante sentido.

Quando começou a sua relação com a moda e fotografia? Quais são suas inspirações?

 Sobre as minhas inspirações, a minha relação com a moda é bastante da geração Z. Comecei a acompanhar pelo instagram quando as coisas já estavam acontecendo, porém também sempre acompanhei os estudantes da Saint Martins e pesquisei em revistas como a Dazed e a i-D.




Lembro de quando eu tinha 17 anos e a Gucci lançou uma campanha da coleção cruise dirigida por Glen Luchford. Naquele momento, tive uma das minhas primeiras grandes referências de moda. Luchford retrata jovens de gêneros e raças diversas numa posição de privilégio
e luxo com todos aqueles ornamentos exuberantes em uma casa

pitoresca. Apesar de sua visão ainda ser de um homem europeu, me identifiquei, me fascinei e passei a querer viver aquilo porque, paralelo à minha referência da realidade de adolescência, que era totalmente polarizada entre a pobreza de onde eu vivia e a riqueza da onde eu estudava, a campanha me possibilitou acreditar numa realidade reversa; a miscigenação e pluralidade das pessoas de onde eu nasci, ocupando um lugar de poder e privilégio.

Também sempre tive inspiração dos elementos da minha casa, como minha vida era fechada, sempre busquei dentro de onde eu morava coisas que poderiam me inspirar no meu processo de criação, então era inspirado desde os crochês decorativos às cortinas da sala.







Como funcionou o seu processo criativo para esse editorial?
Sempre vivi em um lugar de sonho, e trago bastante isso no editorial.Gosto
de fazer essas brincadeiras de representação de poder e, hoje graças a essas

referências, tornou-se o segundo pilar mais importante da atmosfera do meu trabalho, o que eu brinco dizendo que é o Reverse Colonization. O fortalecimento da imagem do sul global, num contexto de miscigenação e latinidade no lugar de poder, que é o que nós fomos educados a não acreditar que existe e que não era possível. Sempre tento conduzir minhas modelos para uma atitude forte,
de superioridade. Você provavelmente nunca vai me ver 
fotografando uma modelo branca usando full Chanel, pois gosto de retratar pessoas culturalmente marginalizadas e que foram ensinadas que não possuem direito ao poder
reivindicando esse lugar através das roupas. No meu trabalho gosto de brincar com o olhar e construir nisso uma atmosfera de "E aí, querida! Vai encarar!?" Você pensa 2,3 vezes se você vai mexer com essa garota ou não.











Você fala que foi bem contemporâneo nas suas inspirações, mas você tem alguma
inspiração do passado?

Eu não tenho medo de assumir que minhas pesquisas e maiores interesses por fotografia e moda sempre foram voltados para a contemporaneidade. Por exemplo, eu só comecei
acompanhar fielmente o trabalho
de diretores criativos quando Alessandro Michele entrou 
na Gucci, Demna na Balenciaga, porque eram os que estavam atuando no momento em que comecei a me interessar por moda. Acredito que, até pela ausência do interesse em referências mais clássicas, eu via meu trabalho olhando mais
pro futuro, para algo mais 
fresco do que uma imagem já existente, peculiar e estruturada. Foi só de um ano pra cá que me fez sentido olhar para o John Galliano na Dior dos anos 90, a era vitoriana da Vivienne Westwood,
as campanhas de Tom Ford para Gucci e Steven Meisel fotografando para
Versace do final dos anos 1990.

Falamos bastante sobre suas inspirações no mundo da moda, e sua relação com a arte, você acha que o seu trabalho dialoga com esse universo?
Na verdade, não. Eu frequento exposições de arte desde muito cedo, mas não vejo no meu trabalho uma relação forte com esse mundo. A minha inspiração não vem da arte em si, mas é inspirado em vários outros lugares. Tenho uma grande relação com a música, por exemplo.

O fotógrafo conclui falando que é importante usar como base códigos estéticos do passado para construir o futuro, mas é mais importante criar um mundo imagético novo dentro dos novos contextos sociais.

Porque a imagem de moda de luxo é sempre eurocêntrica e cisgênero? Eu quero cada vez mais retratar a normalização do sonho,
a prosperidade e o luxo nos meus projetos adaptados à contextos sociais diversos, principalmente ao que tange ao queer e a latinidade no lugar de poder.
Mark