Ser espelho para os seus
e para o mundo
22 de março de 2020
A curadora e pesquisadora Carollina Lauriano bate um papo com a rapper Stella Yeshua sobre moda e representatividade.
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Entrevista Carollina Lauriano
Entrevistada Stella Yeshua
Fotografia Maltchique
Direção de estilo Clara Lima
Make up Suy Abreu
Assistência Magu Marioto e Atych Fortes
Hairstyle Juba Trançadeira
Nail artist Cacau Brito
Retouch André Kawa
Cover Motion isluislu
Stella Yeshua veste Bottega Veneta
Agradecimentos 3T e Thinkers
Vídeo Phill Cardelli e Felix Lima
Pós Produção Livia Aprá

Carollina Lauriano: Seus vídeos se tornaram um grande fenômeno nas redes sociais, especialmente porque eles lidam com humor para tratar sobre um retrato das desigualdades sociais. Como você enxerga na internet um lugar de troca e transformação?
Stella Yeshua: Bom, eu percebi que as pessoas que se parecem comigo e as pessoas que são do meu convívio não conseguiam levar assuntos a sério sem algum tipo de entretenimento, para chamar a atenção de cada uma delas. Então, eu entendi que o humor era uma forma de prender a atenção das pessoas e expressar a informação que eu queria. Eu costumo chamar o meu trabalho de Ouvidoria Online. Nessa ouvidoria eu resgato a dúvida dessas pessoas, por meio de DM, e a partir daí construo o roteiro de cada situação que eu quero que expressar. Como era tudo muito comum e muito próximo do dia a dia das pessoas, todos começaram a se identificar muito, de uma forma que passaram a compartilhar tudo o que eu fazia, e isso gerava a troca da experiência das pessoas que enviavam as mensagens, eu e quem via, formando assim um ciclo, um trisal, como a gente chama. E acho que isso cria a maior troca, quando você se identifica com uma coisa muito próxima do seu dia a dia, e isso é o que torna as coisas virais na internet neste milênio, a identificação com o que é cada vez mais próximo da sua vida.
Stella Yeshua: Bom, eu percebi que as pessoas que se parecem comigo e as pessoas que são do meu convívio não conseguiam levar assuntos a sério sem algum tipo de entretenimento, para chamar a atenção de cada uma delas. Então, eu entendi que o humor era uma forma de prender a atenção das pessoas e expressar a informação que eu queria. Eu costumo chamar o meu trabalho de Ouvidoria Online. Nessa ouvidoria eu resgato a dúvida dessas pessoas, por meio de DM, e a partir daí construo o roteiro de cada situação que eu quero que expressar. Como era tudo muito comum e muito próximo do dia a dia das pessoas, todos começaram a se identificar muito, de uma forma que passaram a compartilhar tudo o que eu fazia, e isso gerava a troca da experiência das pessoas que enviavam as mensagens, eu e quem via, formando assim um ciclo, um trisal, como a gente chama. E acho que isso cria a maior troca, quando você se identifica com uma coisa muito próxima do seu dia a dia, e isso é o que torna as coisas virais na internet neste milênio, a identificação com o que é cada vez mais próximo da sua vida.

"O que não pode faltar num guarda-roupa fashionista é única e exclusivamente auto estima, é ela quem vai definir o melhor look, o melhor style, vai fazer você acertar."

Carollina Lauriano: Ainda falando sobre mudanças, você sendo uma influencer digital, como isso reverbera no offline?
Stella Yeshua: Acho que tudo que reverbera no meu off line ainda é muito violento, muito invasivo: as pessoas não conseguem identificar quando eu quero exercer o silêncio. A cerca de três meses atras eu tive uma paralisia facial e não foi opcional, eu tava dopada, tomando seis comprimidos a cada 4 horas, então eu não tinha condição humana de me manter acordada, e quando eu entrava nas redes sociais, estava online, era um enxurrada de cobranças e exigências, o que achei muito violento. As pessoas nao sabem criar empatia com o offline, quando você se torna uma pessoa pública, podemos dizer assim; as pessoas não aceitam muito isso, então eu acredito que tudo em que condiz ao meu offline, meu público acaba sendo muito violento. Ainda não consegui exercitar um código onde as pessoas conseguissem respeitar esse meu lado. Um dia eu chego lá.
Carollina Lauriano: Na visão de Stella, representatividade importa por que?
Stella Yeshua: Eu acredito que meninas como eu viveram uma discrepância social de representatividade e esse buraco que ficou em nós é bem doloroso, então essa representatividade atual é um alívio pra quem não teve. É um grito de socorro para quem precisa de ajuda. A representatividade é nada menos que um espelho, um espelho pra quem não teve e graças a Deus hoje muitas meninas conseguem enxergar e ter a opção de ser quem elas são, a opção de escolher ser o melhor de cada uma delas, ter a opção delas mesmas contarem as suas histórias, ao contrário das meninas da minha idade, que tiveram suas histórias contadas por terceiros. Acho que representatividade é uma opção linda e verdadeira de enxergar no outro um pouquinho de você e querer ser quem você gostaria de ser. É um pouco complexo, mas foi muito ausente na época da minha pré-adolescência e quando entrei na fase adulta. É esquisito você ser quem você não é. Poder trabalhar com vídeos que estimulam as pessoas a serem elas mesmas é, pra mim a grande resposta da importância da representatividade.
Stella Yeshua: Acho que tudo que reverbera no meu off line ainda é muito violento, muito invasivo: as pessoas não conseguem identificar quando eu quero exercer o silêncio. A cerca de três meses atras eu tive uma paralisia facial e não foi opcional, eu tava dopada, tomando seis comprimidos a cada 4 horas, então eu não tinha condição humana de me manter acordada, e quando eu entrava nas redes sociais, estava online, era um enxurrada de cobranças e exigências, o que achei muito violento. As pessoas nao sabem criar empatia com o offline, quando você se torna uma pessoa pública, podemos dizer assim; as pessoas não aceitam muito isso, então eu acredito que tudo em que condiz ao meu offline, meu público acaba sendo muito violento. Ainda não consegui exercitar um código onde as pessoas conseguissem respeitar esse meu lado. Um dia eu chego lá.
Carollina Lauriano: Na visão de Stella, representatividade importa por que?
Stella Yeshua: Eu acredito que meninas como eu viveram uma discrepância social de representatividade e esse buraco que ficou em nós é bem doloroso, então essa representatividade atual é um alívio pra quem não teve. É um grito de socorro para quem precisa de ajuda. A representatividade é nada menos que um espelho, um espelho pra quem não teve e graças a Deus hoje muitas meninas conseguem enxergar e ter a opção de ser quem elas são, a opção de escolher ser o melhor de cada uma delas, ter a opção delas mesmas contarem as suas histórias, ao contrário das meninas da minha idade, que tiveram suas histórias contadas por terceiros. Acho que representatividade é uma opção linda e verdadeira de enxergar no outro um pouquinho de você e querer ser quem você gostaria de ser. É um pouco complexo, mas foi muito ausente na época da minha pré-adolescência e quando entrei na fase adulta. É esquisito você ser quem você não é. Poder trabalhar com vídeos que estimulam as pessoas a serem elas mesmas é, pra mim a grande resposta da importância da representatividade.
Carollina Lauriano: Falando sobre moda, quando você percebeu que moda é um caminho importante para a auto expressão?
Stella Yeshua: Falando sobre moda, eu sempre chamei muita atenção com minhas roupas, porque minha família tem esse hábito: roupas chamativas, conjuntos, que têm uma ligação com penteados, maquiagem etc, então a moda sempre foi muito presente na minha família, pois é aquele quesito apresentação pro mundo: você não pode errar, você não pode falhar na primeira impressão, então a importância da auto expressão da moda na minha vida tem a ver com a vontade de me perceberem na forma que eu quero naquele dia, e isso pode mudar 365 vezes por ano, todo dia. Eu percebi que no decorrer da minha vida eu poderia ser qualquer personagem, eu poderia me fantasiar de qualquer coisa, eu poderia ter o entendimento sobre o meu corpo e as minhas vestes, mas as pessoas sempre tinham as mesmas percepções sobre a minha pessoa, eu poderia estar de Gucci ou Besni, as impressões sobre o meu corpo e meus pensamentos e capacidades sempre foram as mesmas... então, muito cedo eu tive esse estalo na minha vida, na minha pré-adolescência, na escola, onde eu descobri que eu poderia me vestir como fosse, com decote, sem decote, roupas de marca ou não, que os meninos se desinteressariam por mim da mesma forma. Foi então que entendi que eu tinha que criar a minha liberdade ali mesmo, já que a visão de todo mundo por mim era sempre uma coisa não muito boa. Então, amores, eu vou escolher ser livre: brincar de experimentar, brincar de ficar legal, brincar de ficar colorido, e eu faço isso até hoje... não me importo até hoje e as pessoas me enxergam da mesma maneira até hoje, então, ufa! eu não errei.
Carollina Lauriano: O que não pode faltar em um guarda-roupa fashionista?
Stella Yeshua: O que não pode faltar num guardarroupa fashionista é única e exclusivamente auto estima, é ela quem vai definir o melhor look, o melhor style, vai fazer você acertar. Ela tem que acompanhar, pois ela vai além das vestes, ela que vai determinar quem você vai ser naquele dia, então definitivamente: auto estima.
Stella Yeshua: Falando sobre moda, eu sempre chamei muita atenção com minhas roupas, porque minha família tem esse hábito: roupas chamativas, conjuntos, que têm uma ligação com penteados, maquiagem etc, então a moda sempre foi muito presente na minha família, pois é aquele quesito apresentação pro mundo: você não pode errar, você não pode falhar na primeira impressão, então a importância da auto expressão da moda na minha vida tem a ver com a vontade de me perceberem na forma que eu quero naquele dia, e isso pode mudar 365 vezes por ano, todo dia. Eu percebi que no decorrer da minha vida eu poderia ser qualquer personagem, eu poderia me fantasiar de qualquer coisa, eu poderia ter o entendimento sobre o meu corpo e as minhas vestes, mas as pessoas sempre tinham as mesmas percepções sobre a minha pessoa, eu poderia estar de Gucci ou Besni, as impressões sobre o meu corpo e meus pensamentos e capacidades sempre foram as mesmas... então, muito cedo eu tive esse estalo na minha vida, na minha pré-adolescência, na escola, onde eu descobri que eu poderia me vestir como fosse, com decote, sem decote, roupas de marca ou não, que os meninos se desinteressariam por mim da mesma forma. Foi então que entendi que eu tinha que criar a minha liberdade ali mesmo, já que a visão de todo mundo por mim era sempre uma coisa não muito boa. Então, amores, eu vou escolher ser livre: brincar de experimentar, brincar de ficar legal, brincar de ficar colorido, e eu faço isso até hoje... não me importo até hoje e as pessoas me enxergam da mesma maneira até hoje, então, ufa! eu não errei.
Carollina Lauriano: O que não pode faltar em um guarda-roupa fashionista?
Stella Yeshua: O que não pode faltar num guardarroupa fashionista é única e exclusivamente auto estima, é ela quem vai definir o melhor look, o melhor style, vai fazer você acertar. Ela tem que acompanhar, pois ela vai além das vestes, ela que vai determinar quem você vai ser naquele dia, então definitivamente: auto estima.