WHERE THE WORLDS COLLIDE


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por Giuliana Mesquita



Samuel de Sabóia mostra como une os mundos da arte e da moda de forma orgânica e não-óbvia e conta seus projetos para 2020




Provavelmente essa não é a primeira vez que você ouve o nome de Samuel de Sabóia. Nascido no Totó, bairro periférico de Recife, no Pernambuco, ele começou a se interessar por arte muito cedo. Seus pais, pastores, achavam que ele estivesse possuído por forças malignas quando ele começou a pintar, aos 12 anos de idade. Desde aquela época e até hoje, suas telas traduzem, no entanto, um pouco da sua vida, dos seus sentimentos, de suas vivências, dos seus amores, dos seus credos. Conhecer Samuel é como materializar suas pinceladas felizes, imprevisíveis, com riso fácil e senso de estilo, mas sempre consciente de seu passado, de seu presente e de seu futuro. Futuro esse que ele planeja, sonha e trabalha para que aconteça. Antes dos 21 anos, ele já tinha feito exposições solo em São Paulo, Nova York e Los Angeles, só pra citar algumas.

Samuel é um ótimo exemplo do artista que não se descola completamente da sua arte, fazendo com que sua personalidade, sua presença online, suas paixões e seus (muitos) outros talentos alimentem esse talento e vice-versa. Um artista do mesmo futuro para o qual ele trabalha tanto para se concretizar. Em tempos em que muitas vezes se defende que o artista (ou cineasta, ou fotógrafo, ou ator – a lista é enorme) seja separado de seu trabalho, Samuel é um alento. Tudo sobre sua pessoa se complementa de forma orgânica – o que, nesse caso, não pode ser traduzido para óbvio.
Na moda, outro de seus grandes interesses, o artista encontrou uma forma de comunicar como se sente, como se encontra em determinado ambiente e ainda de mostrar como combina os dois mundos pelos quais ele transita: a moda e a arte. “A moda, muitas vezes, também é uma armadura”, conta. “Eu gosto de estilistas que colocam seu espírito no trabalho, dos que usam moda como uma maneira de criar e estabelecer um universo próprio”, continua. “A distópica Rei Kawakubo, a melancólica Simone Rocha, a dualidade de Rick Owens e a precisão de Kim Jones me trazem muita alegria”.

Há uma percepção geral e um ditado popular de que nenhum tipo de moda é arte. Essa tese é defendida por críticos e amantes da arte para separar as duas áreas como se fossem sempre distintas. Samuel discorda. O pernambucano é a prova viva (e atuante) que os dois mundos podem se misturar, se influenciar e se complementar.  “A moda possui um viés artístico, mas, diferente da arte, existe uma necessidade de funcionalidade (na maioria das vezes) e, a partir disso, os estilistas dissecam seus estudos. Existe muita emoção, mas muita atenção aos detalhes. São dois ingredientes que podem se mesclar e tornar um só ou serem totalmente separados”, explica. 
Em 2020, o pernambucano pretende entrar ainda mais nesse mundo que tanto admira. Samuel deve assistir algumas de suas marcas favoritas nas semanas de moda de Milão e Paris, em janeiro. “É um momento de celebração, mas também de conhecer e se integrar a uma comunidade muito importante pra mim”. Os planos para o ano não param por aí. No começo de fevereiro, de Sabóia vai à Berlim, na Alemanha, para uma residência artística de dois meses na CoGalleries, onde finaliza sua exposição de Zurique, que inaugura dia 4 de abril. “Esperem telas novas e esculturas bem maiores. Estou com muitos sonhos e ideias para esse novo projeto: será uma solo e uma seção em comunhão com Bispo do Rosário, mostrando o velho e o novo no Brasil como força crescente, representando a arte sulamericana em um ambiente completamente novo”, explica.

Samuel de Sabóia é, além de um nome para se ter em mente, um bom exemplo do que ser artista vai significar na próxima década. O artista que mescla local e global, que não tem endereço fixo mas que não esquece de onde veio, que se inspira pela forma como as coisas o fazem sentir (como o faz com a moda, sem preconceitos fúteis), que tem uma presença online, mas não banal, que se aproxima de quem o admira, mas não se expõe demais. E, se depender dele (e de nós), não vai ser a última vez que você vai ouvir seu nome